A
igreja da atualidade, ou igreja hodierna como podemos chama-la, vive em meio a
uma crise ética muito grande devido à secularização da fé que é um sintoma ou consequência
da pós-modernidade. Estes, como aqui chamamos, "fenômenos" merecem a
nossa total atenção, vejamos:
1.1. A Igreja do Modismo
Tudo
que se lança transforma-se em festas, seminários, oficinas, congressos, e
muitas vezes até em livros, estão postados na internet são proliferados através
das redes sociais do Youtoube, apenas com um toque você esta em contato com
estas "novas ideias e ideais" que enchem a cabeça de obreiros que são
levados por vento de doutrinas, obreiros doentes, e por consequência geram
igrejas e ovelhas doentes, homens que não estão estruturados, homens e mulheres
desestruturados para assumir uma responsabilidade que julgamos uma das maiores
responsabilidades; que é a de cunho Espiritual. Diante de tão grande desafio
chegamos à mesma conclusão do apostolo Paulo; que devemos nos preocupar com as
falsas doutrinas e principalmente com os falsos mestres e os falsos profetas;
devemos nos preocupar mais com o rebanho de Deus e com as nossas próprias vidas
e ministérios.
1.2. A Igreja do Comodismo
Outro
problema da atualidade está instalado na membresia que acostumou-se com um
evangelho mercantilista que transforma os cristãos em compulsivos consumistas
religiosos. Neste item os obreiros são tentados a satisfazer estes desejos afim
de não perderem os seus membros, segue-se então, uma inversão de valores, já
não temos mais uma igreja onde todos são orientados pelo principio do serviço
cristão (ver Fp 2:1-5). Daí um numero cada vez mais elevado de cristãos que
em vez de servirem desejam ser servidos. Não é estranho também a frase em nosso
meio, dizendo; "não gostei do culto" ou "não gostei do
louvor" ou ainda "não apreciei a mensagem" descaracterizando
assim, os elementos sobrenaturais do culto a Deus, no lugar de adoradores temos
um grupo de consumistas religiosos exigentes, pessoas querendo ser servidas por
Deus, onde Cristo se torna um mero supridor de caprichos pessoais e o Espírito
Santo um meio de alcançar algum status religioso mediante os dons. A mensagem
não é mais a boca de Deus falando mas avalia-se a oratória e a capacidade de
argumentação e eloquência do pregador. Pouca doutrina e muito autoajuda, as
mensagens não são mais cristocêntricas, mas, ao contrario, são antropocêntricas
e egocêntricas, não se tem Cristo como motivação principal e última das
mensagens pregadas, mas no lugar de Cristo, o homem e as suas necessidades. Lembro-me
de uma mensagem ministrada pelo Pr. Aldery Nelson onde o mesmo imprimiu a
seguinte frase "não precisamos de mensagens de autoajuda, mas
precisamos de mensagens que promovam a ajuda do Alto". Que Deus
nos ajude a colocar Cristo no centro de nossas vidas e no centro das vidas
daqueles que nos ouvem, ensinemos aos mesmos que Deus está em busca dos
verdadeiros adoradores, aqueles que o adoram em espírito e em verdade.
Ensinemos que Cristo deve ser adorado como Salvado e entronizado como Senhor em
nossas vidas, Ele e não nós está no controle de tudo.
1.3. Medievalização da Fé
Nosso
olhar volta-se agora para o sacerdócio e algumas instituições cristãs, que
vivem o fenômeno da Medievalização da Fé. Os sistemas religiosos parecem
reportar-se aos tempos que antecederam a reforma protestante. Sacerdócios
corrompidos e igrejas que negociam a Graça de Deus.
Se
no tópico anterior abordamos as problemáticas que estão instaladas na membresia,
agora chegou a hora de analisarmos como estão as coisas nos nossos púlpitos, ou
seja, no ministério da igreja. Vivemos em um tempo que poderíamos chamá-lo
também de "ICABOD". A mesma situação histórica de 1 Samuel capítulos 2 à
4 se repetiu na era medieval e se repete em nossos dias, basta
analisarmos o contexto histórico. Vejamos: Samuel é dedicado ao serviço
do Senhor por Ana em cumprimento ao seu voto a Deus pela cura da esterilidade.
Samuel desde a mais tenra idade aprende a servir a Deus no Templo que na
ocasião estava instalado em Siló. Oficiava o sumo-sacerdócio na ocasião
sumo-sacerdote Eli e com ele seus filhos e por consequência sacerdotes, Hofini
e Finéias. Logo após o cântico de Ana no capitulo 2 dos vv. 1 ao 11,
temos na sequência registrada a primeira referência aos filhos de Eli, e a
primeira impressão não é nada boa; o texto sagrado relata: "Eram porém
os filhos de Eli filhos de Belial", a palavra belial no
hebraico significa "indignidade" ou "impiedade mas segundo
Russel Norman Champlin as expressões como filho ou filha de belial
poderiam significar filhos indignos ou filhos da impiedade, porém a expressão
pode assumir um sentido ainda mais pejorativo, como "agente de Satanás", agora acompanhem comigo
o raciocínio, um sumo-sacerdote complacente com o pecado, e sacerdotes
indignos, ímpios, agentes de Satanás. A segunda informação que temos a respeito
destes, é a atitude que os mesmos tinham com a liturgia e com as ofertas do
povo, diz o texto: "Porquanto o costume daqueles sacerdotes com o povo
era que, oferecendo alguém algum sacrifício vinha o moço do sacerdote,
estando-se cozendo a carne, com um garfo de três dentes em sua mão; e dava com
ele na caldeira, ou na panela, ou no caldeirão, ou na marmita; e tudo quanto o
garfo tirava, o sacerdote tomava para si; assim faziam a todo o Israel que ia
ali a Siló" (1Sm 2: 13, 14), como senão bastasse tal corrupção eles não
paravam por ai, mas davam um jeito de tornar as coisas ainda piores: "Também
antes de queimarem a gordura vinha o moço do sacerdote, e dizia ao homem que
sacrificava: Dá essa carne para assar ao sacerdote; porque não tomará de ti
carne cozida, senão crua. E dizendo-lhe o homem: Queimem primeiro a gordura de
hoje, e depois toma para ti quanto desejar a tua alma, então ele lhe dizia:
Não, agora a hás de dar, e se não, por força a tomarei"(1Sm 2:15-16).
A
consequência destes atos abomináveis ao culto é descrita no versículo 17 do
mesmo capitulo: "Era pois muito grande o pecado destes mancebos perante
o Senhor, porquanto os homens desprezavam a oferta do Senhor" (1Sm 2:17).
Como
podemos observar encontramos nos dias de Samuel os mesmos problemas que
aconteceram na era medieval e que infelizmente se repetem em nosso dias:
a) Exploração do Povo
Assim
como nos dias de Samuel, na era medieval o povo era alvo da exploração do
sacerdócio espúrio, relíquias eram negociadas a preços exorbitantes e quem as possuía
era considerado portador de um altíssimo grau de piedade, as indulgencias eram
vendidas ao povo como um meio comercial de expiação que já simbolizava a
banalização da graça e da fé. A Igreja hodierna desenvolve também os seus métodos
de exploração dos fieis através de vendas de diversos artigos, que
semelhantemente a igreja medieval, chamão-nos de ponto de contato da fé, a
lista é extensa: Sal grosso, rosa ungida, meia ungida, toalha ungida, água do
rio Jordão e etc. A cada dia existem "inovações" em várias igrejas que,
na verdade, são apenas repetições das velhas temáticas religiosas que já
necessitaram de uma reforma, mas teimam em retornar as antigas praticas.
b) Apropriação indevida
daquilo que é pertencente ao Senhor
Também
é notório o grande luxo em que o papado vivia na Idade Média, conforto
proporcionado pelos "donativos" dos fieis. O grande Reformador Martinho Lutero quando
entrou em contato com Roma nos invernos de 1510 e 1511, enviado por sua ordem,
viu lá a corrupção e luxuria da igreja romana e começou a compreender a necessidade
de uma reforma .
Hoje vemos a mesma dinâmica sendo desenvolvida em inúmeras denominações, aquilo
que deveria ser consagrado ao Senhor serve para o enriquecimento indevido de
algumas personalidades, "O garfo de três pontas" continua
funcionando não importando a classe social do individuo, a extorsão é realizada
em nome da fé, e aqueles que não concordam com tais abominações são reputados
como infiéis, incrédulos e destituído de visão espiritual. Certa ocasião
presenciei um destes “movimentos da fé arrecadadora",
o individuo usava a tribuna para declarar alguns "testemunhos" de
provisão divina mediante um sacrifício financeiro, levando os fieis a
contribuir com quantias estipuladas através da cor dos envelopes que cada um
recebia, juntamente com os envelopes cada um destes também receberam um grão de
feijão e foram orientados que no último dia da campanha deveriam trazer a
quantia em dinheiro e o grão de feijão. Para a surpresa de muitos depois do
valor arrecadado, o pregador anunciou que todos aqueles que foram fiéis nos
seus propósitos deveriam olhar para o feijão e enxergar naquele feijão o seu
sonho e deveriam plantar aquele feijão, porque daquele caroço de feijão
proveria vários outros; da mesma sorte, o sonho e as finanças de cada
contribuinte seriam multiplicados, conclusão: pagaram muito caro por um grão de
feijão! A arrecadação desta campanha gerou o valor de R$ 18.000,00 que depois
de contabilizados foram repartidos entre a igreja organizadora e o "pregador".
c)
Difamação e a Banalização do culto de adoração ao Senhor
As pessoas daquela geração só conheciam aquele método desprezível,
e por consequência acabavam generalizando, entendo que a adoração ao Senhor fazia parte daquele
sistema religioso, como se Deus pouco se importasse ou fosse conivente com
aquela situação.
Em nossos dias quantas pessoas decepcionados com a
graça. Recentemente um Pai de família desesperado com a filha jovem acometida
com o vírus do HIV, resolveu ceder aos apelos de certa denominação, chegando lá
explicou o caso ao pastor da igreja que após entender a condição financeira
privilegiada daquele senhor, expressou-se da seguinte forma: "Este caso é
um caso muito difícil e é necessária uma oração especial e uma oferta voluntária
de R$10.000,00 e sua filha será curada". Aquele homem não pensou duas
vezes em atender ao pedido do explorador, não medindo esforços para ver a filha
livre das garras da morte; porém, após cerca de 6 meses da realização do voto e
da oração "forte" a menina veio a óbito. O Pai decepcionado com esta
"graça barata" disse que nunca mais poria os seus pés numa igreja evangélica
e reputa a todos os pastores como charlatões.
Numa outra experiência em uma igreja que dirigi a
mulher grávida de um empresário membro da igreja recebeu uma
"profecia" dizendo que o filho que estava no seu ventre seria uma
benção e seria o filho da promessa, meses depois a mulher teve um problema
hipertensão arterial gestacional (Pré-Eclampsia) e a criança veio a óbito. O
Profeta veio atraído pela condição financeira do casal querendo entregar uma
profecia que agradaria de alguma forma, usando os dons como forma de barganha
para ver se com isso de alguma forma arrecadaria alguma coisa.
Quando fui visitar esta senhora no hospital a primeira
coisa que ela falou a mim e minha esposa em meio às lágrimas, foram as palavras
da "profecia" que havia recebido: "Pastor
a promessa de Deus pode morrer, falaram para mim que meu filho seria uma benção
que era uma promessa de Deus". O casal esfriou na fé pela ação
inconsequente de uma pessoa que usou o nome de Deus inescrupulosamente, um
falso profeta.
Os dias são maus e trabalhosos muitos homens amantes
de si mesmo cujo seu deus é o ventre tem se levantado e se auto intitulado
profetas e pastores, homens corruptos e corruptores, porém Deus tem um antídoto
contra a corrupção do sacerdócio: o Juízo e a exaltação de uma nova geração
realmente comprometida com os ideais divinos. Lembre-se sempre onde houver um
Eli, Hofini e Finéias; Deus proverá para si um Samuel, Deus nunca permitira que
a sua Vinha seja devastada permanentemente, mas no tempo determinado por Ele, a
devida providência chegará.
2. Minha
casa será chamada Casa de Oração
No evangelho de Mateus
21:12ss vemos o Senhor Jesus Cristo entrando no templo em Jerusalém e
quando vê instalado no templo um sistema de comércio que visava a arrecadação
inescrupulosa de dinheiro. Jesus toma um azorrague e promove uma limpeza e
purificação destruindo as mesas daqueles que vendiam animais e das "casas
de cambio", isto mesmo!!! Cambistas!!! Jesus, diz o texto, expulsou a todos os que vendiam e
compravam e disse-lhes: "...Está escrito: A minha Casa será chamada Casa
de Oração. Mas vós as tendes convertido em covil de ladrões" (Mt 21:13). Aqui
está uma grande responsabilidade para os cristãos da atualidade: manter a casa
do Senhor com o seu propósito original, lugar de comunhão com Deus - Casa de
Oração.